21 December 2010

A otimista que vive dentro de mim...

... trouxe isso para ler nas férias de duas semanas.

20 December 2010

O anjo branco

Gatwick Airport. Ontem. Era impossível não pensar no Anjo Exterminador de Buñuel (onde os convidados de um jantar da aristocracia espanhola se transformam quando não conseguem passar pela porta da sala, que está aberta, por vários dias). As latas de lixo estavam abarrotadas, as prateleiras dos cafés vazias e a sujeira tomava conta do aeroporto.

Passageiros em potencial se amontoavam entre malas, iPhones, computadores e lixo. As telas que fornecem informação sobre horários de embarque mostravam números de vôos que deveriam ter partido trinta e seis horas antes.

Sabidamente, a Inglaterra não está preparada para a neve. O inverno mal começou e já nevou duas vezes. Duas vezes o país parou. Pior. Na segunda vez - ontem - quase parou. Se tivesse parado completamente todas aquelas pessoas estariam em casa. Embaixo do edredom. Na frente da televisão. Comendo o que tivessem na geladeira - por que quando o país pára mesmo, a comida não chega no supermercado mais próximo. E Deus salve a Rainha. E seus súditos.

15 December 2010

Por onde eu começo...?

Sinto que preciso me explicar.

Não recebi nenhuma oferta decente pela casa. Não, ela não estava como nas fotos. Meu marido tem trabalho marcado até abril – o que nunca aconteceu antes, nesta época do ano – e assim fomos ficando.

Os planos mudaram. Ficaremos aqui mais doze meses. Talvez dezoito. A primeira reação foi de alívio. Mais uma vez a vida decidiu por mim. Mais uma vez não preciso tomar responsabilidade pelo futuro. Pelo menos por mais doze meses.

A vida ficou mais fácil e mais agradável por que eu ia embora. Minhas prioridades mudaram – e com elas minha atitude. De repente meu trabalho era mais importante que a casa limpa e arrumada – pelo menos mais seguido que antes.

A idéia agora é manter a atitude, ter mais satisfação profissional e mais vida social. O preço é uma casa menos arrumada e as vezes menos limpa. Como quase tudo nesta vida, muito fácil falar.

Hoje mesmo isso me parece uma tortura. A casa uma zona, o frio e a escuridão mal começaram, a atitude e a disciplina tem que ser renovadas a cada doze horas. Por mais doze meses.

Mas se me perguntarem amanhã talvez eu esteja morrendo de amores por Brighton de novo... contente em poder fazer tudo com calma... do website a mudança de casa e continente.

01 December 2010

Winter is here. And so am I.

O inverno está aqui. E eu também. Todos os dias de manhã geada ou neve nos espera do lado de fora. A qualquer hora - e em qualquer esquina – se consome cappuccinos e hot chocolates. A toda hora se comenta a temperatura – que não fica longe do zero em nenhuma parte do dia. É uma boa desculpa para conversar com (semi)estranhos.

A vida inglesa nesta época do ano é tranquila e agradável. É fácil entender os contos de fadas clássicos e Papai Noel - entender as mudanças que as diferentes estações do ano trazem. Talvez esta mudança seja o que me dá mais serenidade; junto com os pequenos prazeres da vida, como cappuccinos e vinhos tintos e queijos e banheiras de água quente.

Então por enquanto estou aqui. Por mais vinte e quatro dias estaremos às vésperas do natal – o que quer dizer que a cidade transpira comércio por todos os poros, mas também tem teatros em alta atividade e rink de patinação no gelo ao ar livre e luzes por toda parte. Aqui estarei durante o inverno europeu. De corpo e boa parte da alma. Ainda com medo de ir e medo de ficar.

*Recomendo a leitura em conjunto com um texto do dia 4 de maio de 2009(!)
http://anandaferlauto.blogspot.com/2009/05/spring-is-here-and-so-am-i.html

26 November 2010

Comprando felicidade

Hoje a culpa-católica-brasileira e a culpa-polticamente-correta-da-esquerda-liberal-do-império-britânico que regem a minha vida não foram páreo para o prazer capitalista de ir às compras. Casacos, gorro com pompom, cachecol, bolsa e utilitários da Habitat para a cozinha me fizeram muito feliz.

15 November 2010

A collaboration between Ananda Ferlauto and Lea Ferlauto Wilson

Alec Soth é americano e veio ao Reino Unido convidado-contratado para fotografar Brighton e então expor sua visão da cidade durante a Brighton Photo Biennial. Como é de praxe quando se chega na ilha da rainha, o oficial de plantão perguntou-lhe o motivo da visita.

Alec explicou que veio como artista convidado da bienal e passaria dias em Brighton produzindo as fotografias encomendadas. O burocrata não entendeu. Por que um americano tinha que vir fazer o trabalho que um inglês poderia realizar? E se ele vinha mesmo com esta missão onde estava o visto de trabalho? Não pode. Se fosse pego fotografando Alec pagaria multa e seria deportado.

Sem ânimo, inspiração ou permissão para fotografar, Alec entregou a câmera à Carmen, sua filha de sete anos. Ontem fui ver a exposição. O resultado estava no Brighton Museum, assinado A collaboration between Alec and Carmen Soth. Já adorava a história e a idéia. Queria adorar o projeto pronto. Adorei.

Três semanas antes eu estava em Nova York, com a Lea, minha filha de sete anos. A única restrição que eu sofri foi a de caminhar pelas ruas do Brooklyn e de Manhattan – a Lea odeia longas caminhadas. Problema diferente, mesma solução: com a tarefa de fotografar o Brooklyn ela sorriu e passou horas nas ruas ensolaradas às vésperas do Halloween.

08 November 2010

Nunca li Poliana

Hoje levantei e senti um vento gelado vindo do quarto da minha filha, que fica em cima do meu. Subi pra encontrar a janela skylight escancarada pela tempestade da noite anterior. Muitas coisas estavam muito molhadas. Desci, fiz e servi o café da manhã e saí para levar a filha para a escola. Chovia tanto que os vidros do meu carro estavam embaçados. Eu não vi e quase atropelei um ciclista (o que em Brighton é algo como agredir o padre em um vilarejo em Portugal).

Voltei para casa para tentar secar as coisas molhadas, ligar o aquecimento central no máximo e lavar os lençóis – molhados - e roupas, muitas roupas. Para aproveitar o aquecimento central no máximo. A chuva não parou. Mas ao invés de limpar o ar e lavar minha alma me encharcou o humor.

Resolvi várias questões mundanas e fui para o supermercado - por absoluta necessidade. Planejei sentar para tomar um café no Café Costa de dentro do Tesco, ler o jornal e relaxar. Não deu tempo. Tomei o café no carro, enquanto o semáforo estava vermelho. Foram vários. Vermelhos.

Tentei ver o lado bom das coisas. Os lençóis precisavam mesmo ser lavados, a casa está quente, o ciclista ainda está vivo e eu também. O café estava bem bom. Mas não consigo. Não consegui ler meu jornal. Estou exausta. O humor não secou. Tenho certeza que odiaria a Poliana.

01 November 2010

Festa pagã

31 de outubro. Halloween. Dia das bruxas, dos zumbis, gatos pretos e cor de rosa, demônios, vampiros e palhaços assustadores. Dia de bater nas portas de desconhecidos e trocar sorrisos e doces. Dia do meu aniversário de casamento. A rebelde que vive dentro de mim adora!

22 October 2010

Toronto

Olhos de turista, fotos de turista.

15 October 2010

Q&A


MY BIGGEST DISAPPOINTMENT?
LEARNING THAT LOVE DOES NOT CONQUER EVERYTHING.


When were you the happiest?
When I was a child.
What is your greatest fear?
That something bad could happen to my daughter.
What is your earliest memory?
I was two years old and was at the park with my dad. I was playing a game of going towards him with my eyes closed. On that day I was taken to A&E to have my forehead stitched.
Which living person do you most admire and why?
Isabell Allende. Because she is talented, has a great sense of humour, is strong and beautiful.
What is the trait you most deplore in yourself?
Prolixity.
What is the trait you most deplore in others?
Not admitting to being wrong.
What was your most embarrassing moment?
Why would I want to talk about it?
What is your most treasured possession?
Old family photos and a recording my step dad made of me telling him a story when I was three years old.
Where would you like to live?
In the present.
What makes you unhappy?
Injustice.
What would your superpower be?
Flying.
What do you most dislike about your appearance?
My eyes. Long story.
What is your favourite book?
Whichever I am reading at the moment I’m asked. So, now it’s The Double, by Dostoevsky
What would be your fancy dress costume of choice?
Something glamorous, to contrast with the everyday me.
What is your guiltiest pleasure?
TV.
What does love feel like?
Ease.
Which words or phrases do you most overuse?
Like...
What is the worst job you’ve done?
Waitressing, serving lovely canapés on beautiful, but incredibly heavy trays. Wearing a tie.
What has been your biggest disappointment?
Learning that love does not conquer everything.
When did you last cry and why?
A few days ago, because I needed it.
How often do you have sex?
Often enough.
What is the closest you’ve come to death?
When I was a baby. For a while doctors didn’t know what I had...
What single thing would improve the quality of your life?
More sunshine.
What keeps you awake at night?
Lists of things to do.
How would you like to be remembered?
As someone who cared.
What is the most important lesson life has thought you?
Every day counts and (almost) everything can wait.
Where would you most like to be now?
On a sunny, sandy, warm beach with my husband, daughter and a good, and thick, book.

(Me auto-entrevistei para o Guardian. Para a revista Weekend, que sai aos sábados)

02 October 2010

Casa à venda

Minha casa está assim... eu estou assim e minha dieta está assim...

16 September 2010

Nem Lá Nem Aqui

Foto (dentro da moldura): Gustavo Papaleo

Os planos não mudaram. Mudo eu, para o Brasil, em janeiro. Acho cada vez mais difícil escrever. Cada vez me sinto com menos direito de reclamar do tempo aqui e declarar que temo a violência de lá.

Aqui ontem o inverno chegou. Não é a temperatura. É o ar. Fresco e cinza. Ainda não me pronunciei em voz alta. Lá, entre meus medos - também silenciosos - está o como eu vou explicar para a filha e o marido tudo o que tem que ser explicado sobre segurança pessoal.

08 September 2010

Nada do que reclamar

Mas eu odeio DIY. Esses dias, prestes a colocar minha casa a venda tenho feito muito DIY. Desde que voltei do Brasil, entre altos e baixos aprecio os pequenos prazeres da cidade pequena e da minha vida de dona de casa criativa. O título é genial, me foi dado por uma colega de mestrado que me disse ter um sonho... ser dona de casa! Criativa.

Quando sento de manhã, leio o jornal e tomo meu - muito inglês - chá com leite penso que é hora de aproveitar o que gosto daqui, me despedir com calma e ver o lado bom das coisas. Quando o sol brilha nesses últimos dias de verão e eu sinto que meu dia foi produtivo e criativo(!) consigo até declarar bom humor.

Mas eu odeio DIY. E me sinto esmagada por tudo o que preciso fazer, decidir, marcar, desmarcar, não esquecer, limpar e cozinhar. A escola da Lea, a mudança de país e continente, a ansiedade, o consulado, o banco, o supermercado, meu trabalho, meu blog, o jardim, a lixa, os pincéis, a tinta, as caixas, a outra tinta.

P.S.: DIY - Do It Yourself - Faça você mesmo.

26 August 2010

O copo

Metade vazio: fui à São Paulo. Minha jornada de volta para casa começou em Guarulhos. Fui para Amsterdã, onde passei pelo controle de passaporte. Depois Londres. Controle de passaporte. De Londres para Copenhague - esta parte foi surpresa. De novo controle de passaporte. De Copenhague para Bergen, na Noruega, onde passei a noite e peguei a Lea. Não sem antes passar pelo controle de passaporte. Dia seguinte de volta para um avião lotado, sempre na classe econômica onde, do alto dos meus um metro e setenta e um centímetros de altura eu mal caibo. E a comida dos vôos mais longos era a pior que já provei em um avião. Já a comida dos vôos dentro da Europa era (um pouco) melhor, mas tinha que ser comprada - com cartão de crédito.
Metade cheio: entre Londres e Copenhague fiz esta foto.

19 August 2010

A feira

Bom dia.
Bom dia.
Quanto é o mamão?
Três por cinco Reais.
Tá bom. Escolhe uns bem madurinhos pra mim?
Esses daqui.
Obrigada.
Posso fazer uma foto sua?
Pode.
(ao fundo gritos de Aí Seu Zé!)

Me senti brasileira, paulistana e feliz.

P.S.: dispenso comentários sobre o cartazinho com o preço na altura dos olhos. Obrigada.

07 August 2010

Procura-se

Bom dia, eu estou telefonando para marcar uma hora para visitar a escola… se possível?
Você já preencheu a fichinha?
Não…

Terceiro ano? Não é esse o número… o número é 30245311.
Obrigada.
Bom dia, eu estou telefonando por que eu vou mudar para São Paulo e gostaria de visitar a escola… eu estou procurando escola para minha filha…
Já preencheu a fichinha?
Não… eu só queria ver a escola.
Ah…! Não… você tem que primeiro preencher a fichinha. Trazer junto com uma foto três por quarto e uma cópia do último boletim - e então marcar uma hora com a coordenadora. A escola tem muita procura, então primeiro você tem que se inscrever, passar pela triagem e a seleção final é feita em outubro.

Eu só queria ver a escola. E minha filha não tem boletim.
Não tem boletim?
Não.
Mas tem que trazer o boletim.
Eles não usam boletim. Não existe. E aqui são férias de verão. A escola está fechada.
Tem um relatório?
Sim, tem relatório, mas a escola está fechada. A diretora, que é a dona da escola, está de férias, fora da cidade, eu não vou conseguir uma cópia antes de setembro.
Ah… então traz a fichinha e a foto.
E com a ficha e a foto eu consigo marcar uma hora para ver a escola?
Sim, mas nós temos muita procura.
Eu entendi. Obrigada.

20 July 2010

Cornualha, alto verão.

Ser esnobe é... se chove não quero sair para caminhar, se venta e faz frio visto um casaco e me encolho, se a água é gelada não tomo banho e se o sol sai ao meio-dia me recuso a deitar embaixo dele...

07 July 2010

Hove, actually.

Antes de mudar pra Brighton usei a expressão sem nem saber que era famosa. Acontece que todo mundo sabe onde fica Brighton, mas eu moro em Hove. É um clássico: where do you live? In Brighton, well, in Hove actually. (Uma rua e uma estátua marcam a divisa.)

29 June 2010

Auto-flagelo

11 June 2010

Aqui e Lá

Pedalava eu a caminho do trabalho ontem, em um dia de temperatura amena e sol quase brilhando entre as nuvens. E pensava... daqui a pouco vai ser o trânsito de São Paulo e o sol a pino. E eu também vou gostar...

02 June 2010

Metáfora IV

Não o frio, mas o silêncio.

24 May 2010

gET OuT And Go AWAY

Only come in if you are Ben. P or(S) Ben. C and Lucy!!!

12 May 2010

Metáfora III

Hiato.

02 May 2010

Histórias

Chimamanda Adichie define o perigo da única história... eu faço parte – na cabeça de muita gente, por que sou brasileira - de uma única história... e quando encontro alguém que repete essa única história não acho engraçado... mas as vezes me pego lutando contra minhas próprias idéias baseadas em únicas histórias.

Chimamanda Adichie: The danger of a single story | Video on TED.com

*vem com legendas em português, é só clicar em languages, embaixo da janela do vídeo.

22 April 2010

Onde foi que eu errei?

Será que foi quando eu pensei que ser mãe, em outro continente, com um marido caixeiro viajante (aka* filmmaker) seria tão simples quanto fazê-lo em casa - no Brasil?

Será que foi quando eu percebi que não tinha jeito - e que ficar em casa com minha filha, amamentando, limpando e cozinhando era o único caminho?

Ou foi quando depois de um ano eu disse agora chega, mas não soube por onde começar a chegar...?

Teria sido quando insisti em ficar na Inglaterra, onde depois da maternidade, não me adaptei nem me encontrei?

Talvez tenha sido simplesmente por ter pensado que maternidade poderia ser, em algum lugar, simples. E não perceber que trabalhar, na indústria criativa, sem serviçais, é parte de um conto de fadas. Sem as fadas, lógico.

Mas em algum lugar eu acertei, porque minha filha é uma pessoa ótima.

*also known as

15 April 2010

Pecadores

Na primeira vez em que fui a Noruega uma verdade simples me bateu na cara: a natureza lá é belíssima, mas hostil. Os Fiordes são gigantescos e a neve se acumula aos metros. Homens e mulheres sempre tiveram de pensar adiante, trabalhar duro no verão para sobreviver ao inverno. Algo como as formigas em A Cigarra e a Formiga de Esopo.

Seremos nós a cigarra? Sem ter que passar pelo inverno, convivendo com a natureza belíssima e generosa - mas quando a Revolução Industrial e a Era Contemporânea chegaram nossos pés congelaram? Será imediatismo nosso maior pecado?

08 April 2010

A Noruega distante

Tem quatro milhões de habitantes; muito petróleo; belíssimos fiordes (Google, se necessário); muita neve; muito conforto material; sistemas de educação e saúde públicos com qualidade de primeiro mundo(!); um ano de licença maternidade ou paternidade, a escolher; impostos de até quarenta e nove por cento na fonte; expectativa de vida muito longa; título de país com a melhor qualidade de vida do mundo em inúmeras listas acadêmicas; patriotismo; individualismo e um grande orgulho: irrisória diferença de classes.

01 April 2010

Ustaoset



Pronuncia-se 'Ustaússa'.

24 March 2010

Borralho

Hoje as dez e meia eu já tinha tomado café da manhã, levado minha filha para a escola, lido o jornal, feito as camas, recolhido a roupa limpa e adiantado o jantar descascando cenouras e colocando-as na panela de vapor para cozinhar – suflê!

Ao meio dia já tinha respondido e-mails, adiantado parte do trabalho (escrito) do dia e queimado irremediavelmente a tal panela. E com ela se foi minha sensação de mulher-maravilha.

18 March 2010

Saudade do que está aqui.

Brighton, 18th of March, 2010.

11 March 2010

Direitos

Quando acordar cedo, dormir cedo. Comer bem e comedidamente. Pouca carne. Evitar muito sal, açucar, cafeína e álcool. Beber litros de água. Passar creme no rosto. No corpo. Nos cotovelos. Fazer exercício. Fazer as unhas. Escovar os dentes com escova de dentes elétrica. Usar fio dental. Evitar água muito quente no banho. Não desperdiçar água. Não desperdiçar comida. Não desperdiçar energia. Fazer yoga. Evitar usar o carro. Usar a bicicleta. Questionar a fonte do que se come, bebe e veste. Ler o jornal. Ler mais livros. Dar atenção a filha. Ao marido. A mim mesma. Aos amigos. A mãe. E trabalhar. E não reclamar.

07 March 2010

Metáfora II

Eu. Em outro hoje.

28 February 2010

Não há muito o que contar

Não há muito o que contar,
para amanhã
quando já desça
ao Bom-Dia
é necessário para mim
este pão
dos contos,
dos cantos.
Antes da alba, depois da cortina
também, aberta ao sol do frio,
à eficácia de um dia turbulento.

Devo dizer: aqui estou,
isto não me aconteceu e isto acontece;
enquanto isto as algas do oceano
se movem predispostas
à onda,
e cada coisa tem sua razão,
sobre cada razão,
sobre cada razão um movimento
como de ave marinha que levanta
da pedra, da água, da alga flutuante.

Eu com minhas mãos devo
chamar: venha qualquer um.

Aqui está o que tenho, o que devo,
Ouçam a conta, o conto e o som.

Assim cada manhã de minha vida
trago do sonho outro sonho.

Pablo Neruda
12/07/1904 - 23/09/1973

21 February 2010

Metáfora

Eu. Hoje.

15 February 2010

Finalmente

Decisão tomada. A volta ao Brasil é inevitável. A natureza, o calor - do sol e humano - os amigos, a família, a comida e, alas, as empregadas domésticas me puxam como um ímã gigante e irresistível.

Tanto tempo pra tomar uma decisão e a parte difícil começa agora. Burocracia brasileira é um deleite... a Lea não é brasileira nata, acabo de descobrir. Tem passaporte e certidão de nascimento brasileiros, mas pra viver no Brasil tem que ser brasileira nata. E assim caminhamos todos nós...

A matemática é desestimulante. Alugar a casa em Brighton. Empacotar a casa em Brighton. Abrir conta em banco. Conseguir fiador. Buscar morada em São Paulo. Desempacotar a casa em São Paulo. Organizar plano de saúde. Achar escola. Encontrar a tal empregada. E esse cálculo não inclui números.

Quando chegar, já me achando paulistana, vou ler a Folha todos os dias e, ainda com ranço de inglesa, vou em busca do Guardian nos sábados. Vou reclamar do trânsito e não sair de casa por uma semana. Vou tomar café em lugar de chá e olhar tudo em volta com olhos deslumbrados. A cidade e as pessoas vão me inspirar. Ter meus amigos mais perto vai me fazer feliz. E depois disso eu não sei.