29 May 2009

entÃO...

Coração, melão, avião, pão, violão, mamão, mão, balão, tubarão, botão, cão, calção, camarão, pião, fogão, leão, carvão, feijão, verão, chão, João, alemão, pimentão, salão, papelão e caminhão.

Estou em uma missão: fazer minha filha pronunciar este som com sotaque brasileiro. Nada fácil. Ela adora a brincadeira, tenta, mas o sotaque ainda não tá bão.

A imagem acima vale por 26 palavras - terminadas em 'ão'? Com sotaque inglês-inho...?

27 May 2009

Half-term

Quantas metades existem em um inteiro? Cada term dura três meses. Em teoria o half-term é uma semana de pausa no meio deste período – daí a palavra half (metade). Mas acabam acontecendo duas ou três vezes por term, dependendo da época do ano. Como funciona essa matemática eu não entendo.

Na semana passada outra mãe da escola da Lea (a esta altura somos todas mães de alguém) me perguntou casualmente: what are you going to do during half-term? Pensei um segundo e disse: I don’t know... pull my hair out?

Como essas mulheres conseguem ser felizes, trabalhar e criar os filhos? Ok, a maioria tem os pais perto. Grande parte não trabalha ou trabalha pouco e quem me diz que elas são felizes?

Será que crescer sabendo que nunca vai se ter uma empregada pra ajudar na casa, raramente uma babá pra buscar os filhos na escola, que o marido (ou na falta de um, o governo) vai ter que ser o principal provedor da família e que o sol só vai brilhar dois meses por ano faz do dia-a-dia uma tarefa mais fácil de encarar? Ou será que a vida depois dos trinta, com filhos pra criar, é difícil em qualquer lugar?

24 May 2009

TOMBOS

De todos os tombos
que na vida levei
o pior foi nascer
e o maior foi morrer


José Otávio da Rosa Ferlauto
11/07/1951 - 24/08/2007

20 May 2009

On the ning nang nong

Buscava eu um poema pra colocar aqui, em uma mistura de preguiça de escrever com vontade de ler e oferecer poesia, quando encontrei (no meu caderno de trabalho) esta pérola da cultura inglesa, transcrita pela minha belíssima filha.

On the ning nang nong

Where the cows go bong

And the monkeys all say boo

On the nong nang ning

Where the trees go ping

And the tea pots jiber, jaber, joo.



19 May 2009

I own the greenest car in Britain

Eu sou a proprietária do carro mais ecologicamente correto da Grã-Bretanha!

18 May 2009

Fuss Free


Jessica Valenti vai se casar. Ela é colunista do The Guardian e feminista assumida, então o assunto ganhou duas páginas, com direito a foto do casal, no jornal de sexta-feira, 24 de abril. O futuro marido também é feminista. Ela não tem um anel de diamante, a decisão foi tomada pelos dois – ninguém se ajoelhou. Valenti não vai se casar de branco, não vai adotar o nome do marido e os filhos terão os sobrenomes do pai e da mãe (em lugar de usar só o do pai, como é comum na Inglaterra).

As reações vieram de toda a parte. As amigas feministas acham que casamento é confirmação do patriarcado. O resto dos comentaristas ficou escandalizado com a quebra das maravilhosas tradições. Existem web sites (!) sobre o assunto. Emily Kennedy (?) conta que se casou de roxo e se recusou a servir um ‘crap-tastic white cake’ – referência ao tradicional bolo de casamento, que é branco e geralmente ‘crap’ (tradução: mais que coco, menos que merda, em termos de semântica, obviamente).

Eu só conseguia pensar na minha própria experiência (e referência) de casamentos. Estou no segundo. O primeiro teve festa de noivado, anéis (diferentes e nos polegares), presentes e caminhão de mudança. Nunca pisamos em um cartório. Aqui esse já não conta. O termo é ‘partnership’. O segundo não teve noivado, a única de branco era nossa filha, aos 10 meses de idade, os bolos eram dois e nenhum era branco.

Meu nome continua o mesmo – para desgosto do sogro e deleite da sogra. Minha filha tem dois sobrenomes - só pra deixar de usar o meu mais rápido que eu deixei de usar o da minha mãe, mas está lá. Eles, os nomes, parecem ser os maiores causadores de repercussão. Minha vizinha ficou surpresa em saber que não adotar o nome do marido era uma possibilidade. Teria mantido o seu. É mais bonito. Mas a minha preferida é o futuro marido ofendido. Ou chateado. Ouvi algumas vezes: eu ia manter meu nome, mas ele ficou todo chateado e eu achei bonitinho (cute)... na última vez que ouvi isso não aguentei: e você caiu!?

Pelo visto o Brasil tem muito o que ensinar a Inglaterra quando o assunto é casamento no século XXI.

(Fuss: espalhafato, rebuliço, barulho, agitação, excitação, preocupação exagerada – na falta de uma palavra só para traduzir...)

12 May 2009

Era uma vez no parlamento inglês...

As primeiras páginas dos jornais ingleses vem tratando do mesmo assunto nos últimos quatro dias: as despesas dos membros do parlamento que tem sido pagas pelo povo (pelo governo, com o dinheiro dos impostos). David Cameron, o líder da oposição, se desculpou em nome de seus companheiros de partido antes de serem acusados. Já Gordon Brown, o primeiro ministro, deixou três dias passarem antes de se manifestar. Mas pediu desculpas em nome de todos os membros de seu partido e dos políticos em geral.

Os disparates vão de uma barra de KitKat (£ 0,50 – R$ 1,50) à manutenção dos jardins de suas segundas casas (uma das contas foi de £ 5.650 - R$ 16.950). O autor do primeiro se desculpou e prometeu devolver o dinheiro. O do segundo esclareceu que a conta não era para a ‘construção’ de um novo jardim, mas sim para a manutenção de um que já existia. Em outras palavras: cortar a grama e aparar os arbustos – por sete meses. Há números maiores e melhores justificativas.

Já o primeiro ministro teve que explicar por que pagou a conta da faxineira do irmão (£ 6.500 – R$ 19.500 por um ano). No jornal de ontem, a cunhada (de Gordon) conta como ele sempre foi desorganizado e que a casa dele, quando era solteiro, era uma zona (!). Então ele precisava de ajuda – portanto o hábito de usar a mesma faxineira vem de longa data. E assim vai...

A questão é: membros do parlamento tem direito a despesas de uma segunda casa pagas pelo governo - desde que eles não morem em Londres antes de serem eleitos. As contas podem ser as prestações de uma nova casa, móveis, eletrodomésticos, manutenção em geral, material de escritório, salários de assistentes e muitas outras despesas.

O escândalo que agora vem a tona é resultado da distorção que os políticos descobriram que podiam get away with (escapar) dentro do sistema. Então apesar de os custos serem muitas vezes altíssimos, ou apenas absurdos, eles não infringiram nenhuma lei. O problema é que quase todos tiraram vantagem das regras para usar o dinheiro em benefício próprio - muito além do que seria razoável. Agora o sistema vai mudar. Não sei se rio ou se choro.

Mas antes de enfiar o dedo na nossa ferida devo esclarecer: se por um lado a estrutura política do Reino Unido é exemplar (em comparação com a nossa), por outro teremos que lidar com um novo problema . Por conta da desilusão do povo diante dos maiores partidos do país, o BNP (British National Party) está mais forte. A previsão é de que eles vão ganhar muitos votos extras na próxima eleição. O BNP é abertamente racista, conservador e extremista. E (hurray!) odeiam estrangeiros de qualquer cor. Não que eu seja branca nestas bandas do mundo anyway...

08 May 2009

Direito à Luz do Sol – Right of Light Act

Pra quem acha que eu reclamo demais da falta de sol aqui está um exemplo do quanto isto afeta a vida dos moradores da ilha da rainha.

http://www.opsi.gov.uk/RevisedStatutes/Acts/ukpga/1959/cukpga_19590056_en_1

Se você não sabe ler inglês ou não tem tempo (e bastante) de sobra o assunto é o seguinte:

Em 1959 o congresso do Reino Unido aprovou uma reforma para a lei que tratava do direito de um proprietário sobre a luz que entra em sua propriedade. Simplificando ao máximo: ninguém pode construir uma casa ou prédio sem ter certeza de que o mesmo não vai interferir no acesso a luz do sol do seu vizinho.

Achei hilário, mas pra rir mesmo, só se for riso nervoso...

Tudo começou num reino distante...

Ustaoset, 29 de dezembro de 2003.

Hoje o sol nasceu no leste. O Geo me explicou que a cabana está posicionada bem ‘reta’ em relação aos pontos cardeais. A janela que dá para o leste é a da sala de jantar. Ou melhor, da mesa de jantar, a sala é uma só. O céu estava cian. Na janela do lado sul tudo estava azul. O sol chegou radiante. Com força total, esquentando a gente quando se senta para ler, comer, brincar ou só se esquentar. Lá fora faz –20ºC. A Lea não pode sair de casa - está frio demais. Eu não quero sair de casa.

Lea ontem completou 11 meses. Está linda. Muito esperta e cheia de vontades. Descobriu uvas. Acho que a Noruega sempre vai ter gosto de uvas para ela.

O sol me faz feliz. A lareira está acesa. Marthe e Thea foram embora hoje - com Hasse e Unn-Hilda. Lea dorme. Reina um silêncio absoluto. Um silêncio que só conheci quando conheci a neve. Neve. Com letra maíuscula, cobrindo tudo: montanhas, estradas e casas. Aqui é como aqueles lugares que a gente vê em filmes americanos ou nos gibis da Luluzinha. A neve tem que ser tirada da porta com uma pá, quase todos os dias. Mas não este ano. Nevou pouco. Calculo um metro e meio!

Como chocolates e bergamotas. Bergamotas. Elas não podem ser chamadas de outra coisa. Tirei algumas fotos das crianças. Só. A paisagem é inspiradora, mas a vontade de só pensar é mais forte. Vontade de escrever. Dizem que fotografa quem não sabe desenhar. Será que escreve quem não consegue fotografar? Ou será tudo ao contrário?

Terminei de ler o livro da Vera há uns dois dias. Lindo. Cru, mas sincero – adjetivos calculados não são honestos como os espontâneos. Saudade dela. E do Pancho. E da minha família. E da Valentina. E da praia. Do mar. Da areia. Da mistura dos dois...

Preciso dormir

05 May 2009

Pão, manteiga e bacon


Na América do Sul se trabalha para ganhar o pão; na Europa se trabalha para ganhar o pão com manteiga; nos Estados Unidos para trazer para casa o bacon.
O que será que vai mudar com essa crise-reviravolta mundial? Será que os americanos começarão a trabalhar para consumo próprio, em menor escala, com atenção as fontes de sua riqueza? Naturais e humanas - no mundo todo? E os europeus? Trabalharão para o pão, manteiga e água potável? Viverão de acordo com suas realidades – financeira e de recursos naturais? Perceberão que igualdade só dentro de casa não é suficiente?
E o Brasil? Vai tirar suas crianças e velhos das ruas? Organizar seu sistema de impostos e dividir melhor suas riquezas?

04 May 2009

Spring is here. And so am I.



A primavera está aqui. E eu também.
Sábias palavras, de bons amigos, lá e aqui: não é o lugar que faz a vida da gente. Somos nós. Desde então penso nisso seguido. As vezes digo pra mim mesma: estou bem, contente comigo e com a minha vida. Só não quero passar meus dias e criar minha filha longe do Brasil. A vida é curta. Em outros dias tudo embola de novo... tenho medo de ir e medo de ficar.

Nesta época do ano o sol esquenta (acreditem: no inverno, nas raras ocasiões em que faz sol, a temperatura é a mesma no sol e na sombra). As árvores começaram a florescer e as pessoas andam mais felizes e sorridentes – e com menos roupas. Os gramados públicos estão cheios de gente bebendo o sol, fazendo piqueniques, lendo, namorando – casais gays namoram em público. Tudo muito civilizado.

A vida inglesa nesta época do ano é tranquila e agradável. É mais fácil entender o que me manteve aqui. Também é mais fácil entender os contos de fadas clássicos e Papai Noel - entender as mudanças que as diferentes estações do ano trazem. Talvez esta mudança seja o que me dá mais serenidade; junto com os pequenos prazeres da vida, como contato com a natureza e amigos - ao mesmo tempo.

Então por enquanto estou aqui. Por um mês teremos o Brighton Festival – o que quer dizer que a cidade transpira arte por todos os poros e os parques tem atividades gratuitas para crianças de todas as idades. Todos os finais de semana. E hoje é feriado. E eu moro perto da praia. Aqui estarei durante o verão europeu. De corpo e boa parte da alma.

01 May 2009