esmurram Beirute
como quem bate num homem
na delegacia de furtos e roubos
44 mil bombas ontem
e não encontraram a cara
de quem queriam atingir
caras que brotam
entre beijos e escombros
agradecendo à vida a vida
aguardando o retorno
dos bombardeiros
nos céus do Líbano
silenciam e esvaziam
Beirute
aqueles que sobreviveram
ao holocausto
José Otávio da Rosa Ferlauto
E agora Honduras. Venezuela ensaiando. E segue o Afeganistão. E o Iraque. E para sempre os árabes e os judeus... com o consentimento dos cristãos... e perdão pelo meu eufemismo. E os homens matam uns aos outros em nome de ideologias, poder e religião. Alguma vez valeu a pena?
30 June 2009
26 June 2009
Encanadores, pedreiros, instaladores de tv a cabo e pintoras de parede.
Existe uma lenda urbana, propagada principalmente por filmes americanos, de que os homens que vem consertar ou instalar, pintar ou demolir nossas casas e seus equipamentos são musculosos (na medida!), atraentes e interessantes. Tendo morado no Brasil pelos primeiros 26 anos da minha vida, nunca entendi bem de onde saiu essa idéia.
Uma vez em um dia de verão, já moradora de Londres, ouvi alguém dizer Good morning! Não achei que fosse comigo, nas ruas de Londres ninguém se olha no olho, imagina dizer bom dia a um desconhecido. Era ele! O pedreiro! Lindo, jovem e educado. Ele disse bom dia de novo e sorriu. E tinha todos os dentes. Ainda meio estupefata desejei um bom dia ao belo e segui adiante.
Recentemente, agora moradora de Brighton, contratei duas meninas para pintarem minha casa do lado de fora. Fazia-se necessário. Nos vários dias em que elas trabalharam eu observei os homens passando na rua e olhando longamente para as moças. Principalmente os que passavam dentro de vans, famosamente dirigidas por encanadores, pedreiros, instaladores de tv a cabo e pintores de parede. Nem uma palavra era pronunciada. Os ingleses nem se quer tem uma palavra que corresponda a Gostosa!
Uma vez em um dia de verão, já moradora de Londres, ouvi alguém dizer Good morning! Não achei que fosse comigo, nas ruas de Londres ninguém se olha no olho, imagina dizer bom dia a um desconhecido. Era ele! O pedreiro! Lindo, jovem e educado. Ele disse bom dia de novo e sorriu. E tinha todos os dentes. Ainda meio estupefata desejei um bom dia ao belo e segui adiante.
Recentemente, agora moradora de Brighton, contratei duas meninas para pintarem minha casa do lado de fora. Fazia-se necessário. Nos vários dias em que elas trabalharam eu observei os homens passando na rua e olhando longamente para as moças. Principalmente os que passavam dentro de vans, famosamente dirigidas por encanadores, pedreiros, instaladores de tv a cabo e pintores de parede. Nem uma palavra era pronunciada. Os ingleses nem se quer tem uma palavra que corresponda a Gostosa!
25 June 2009
Direitos animais
Barack Obama matou uma mosca. Não sete. Uma. Virou notícia de primeira página. Okay, foi mesmo impressionante: http://www.youtube.com/watch?v=5rbUH_iVjYw.
No Guardian, meu jornal preferido que sempre me faz rir, Lucy Mangan, que sempre me faz rir, descreveu oito maneiras de matar uma mosca. A número um está aqui:
“(...)The Barack Obama method
Brush the buzzing irritant that is not Hilary away and try to continue with your task. When the fly persists, stop. Gather your thoughts and energies. Focus. Bring the fly to land on your left hand by sheer force of will. Fascinate the fly with your charm and charisma. As it gazes at you with its red compound eyes, raise your right hand and slap it down upon the enthralled insect. Sit back in silent acknowledgement of the fact that you are not just part-black, part-white, part-messiah but also part zen-freaking master. (...)”
Horas depois de ler o jornal, escutava eu a Radio Four (BBC – só falam, não tocam música - I am part nerd-freaking weird) quando o assunto entrou na programação. O locutor anunciou: Obama killed a fly... bladibla... e então chamou seu convidado, Professor de Filosofia da Universidade de Cambridge. Que fique claro: a palavra ‘Professor’ em inglês é título para o cargo mais prestigiado dentro do mundo acadêmico. Este senhor foi chamado para responder a seguinte pergunta: tudo bem em matar uma mosca? Sim, as moscas são parasitas e matá-las é instintivo. Moscas podem ser mortas sem maiores implicacões morais – foi a reposta. Não, eu não estou brincando.
Anos atrás meu marido trabalhou em um curta metragem na Espanha. Na volta ele montou um showreel (portfolio, mas de filmes) que incluia uma cena deste filme, em que uma senhora rabugenta vê uma barata andando em cima da mesa. Corta para ela levantando uma concha de sopa para matá-la. Perguntada minha opinião eu disse: sinto falta da parte em que a barata aparece morta. Problema. Eles haviam realmente matado a barata. Poderia causar polêmica. Tive que explicar: baratas não tem direito a vida! Os espanhóis da equipe se preocuparam com isso? Não. Claro que não! Onde tem baratas todo o mundo sabe disso! Até hoje não tenho certeza se o conceito foi completamente absorvido pelo norueguês com quem divido uma casa há oito anos, em uma cidade inglesa onde baratas não existem.
No Guardian, meu jornal preferido que sempre me faz rir, Lucy Mangan, que sempre me faz rir, descreveu oito maneiras de matar uma mosca. A número um está aqui:
“(...)The Barack Obama method
Brush the buzzing irritant that is not Hilary away and try to continue with your task. When the fly persists, stop. Gather your thoughts and energies. Focus. Bring the fly to land on your left hand by sheer force of will. Fascinate the fly with your charm and charisma. As it gazes at you with its red compound eyes, raise your right hand and slap it down upon the enthralled insect. Sit back in silent acknowledgement of the fact that you are not just part-black, part-white, part-messiah but also part zen-freaking master. (...)”
Horas depois de ler o jornal, escutava eu a Radio Four (BBC – só falam, não tocam música - I am part nerd-freaking weird) quando o assunto entrou na programação. O locutor anunciou: Obama killed a fly... bladibla... e então chamou seu convidado, Professor de Filosofia da Universidade de Cambridge. Que fique claro: a palavra ‘Professor’ em inglês é título para o cargo mais prestigiado dentro do mundo acadêmico. Este senhor foi chamado para responder a seguinte pergunta: tudo bem em matar uma mosca? Sim, as moscas são parasitas e matá-las é instintivo. Moscas podem ser mortas sem maiores implicacões morais – foi a reposta. Não, eu não estou brincando.
Anos atrás meu marido trabalhou em um curta metragem na Espanha. Na volta ele montou um showreel (portfolio, mas de filmes) que incluia uma cena deste filme, em que uma senhora rabugenta vê uma barata andando em cima da mesa. Corta para ela levantando uma concha de sopa para matá-la. Perguntada minha opinião eu disse: sinto falta da parte em que a barata aparece morta. Problema. Eles haviam realmente matado a barata. Poderia causar polêmica. Tive que explicar: baratas não tem direito a vida! Os espanhóis da equipe se preocuparam com isso? Não. Claro que não! Onde tem baratas todo o mundo sabe disso! Até hoje não tenho certeza se o conceito foi completamente absorvido pelo norueguês com quem divido uma casa há oito anos, em uma cidade inglesa onde baratas não existem.
18 June 2009
Deus não é inglês
Os brasileiros dizem que Deus é brasileiro, os australianos dão graças à Deus pela Austrália, já os ateus ingleses se deram ao trabalho de criar uma campanha que diz: “provavelmente Deus não existe. Agora pare de se preocupar e aproveite sua vida.”
www.atheistbus.org.uk
P.S.: em Londres muitas igrejas foram vendidas e transformadas em cafés, escolas, estúdios de música e até casas.
P.S.II: sim, houve controversia e resposta do partido cristão também no ônibus, mas não foi a mesma coisa. Nunca é.
www.atheistbus.org.uk
P.S.: em Londres muitas igrejas foram vendidas e transformadas em cafés, escolas, estúdios de música e até casas.
P.S.II: sim, houve controversia e resposta do partido cristão também no ônibus, mas não foi a mesma coisa. Nunca é.
15 June 2009
Ou Isto ou Aquilo no (meu) Reino Unido
Produtos de Limpeza: ecológicos, caros e não tão eficientes ou poluentes, baratos e eficientíssimos.
Empregadas domésticas: meu reino por uma! ou igualdade social ao ponto de todos terem as mesmas oportunidades e salários que lhes permitam uma vida tão confortável quanto a minha (ou quase) – o que se traduz em não poder pagar por uma... como é aqui.
Roupas: vou ao Sale da Gap e me esbaldo ou questiono o sistema de produção que eles empregam. Abro mão de comprar cinco peças de roupa e vou atrás de quem mantém um sistema de cooperativa na produção de seus produtos e com o mesmo dinheiro compro uma camisa e meia.
Ainda nas roupas: passo horas, dias da minha vida garimpando brechós ou entro na H&M e vou direto ao que quero, sem nem experimentar e saio com o que preciso sem gastar mais do que gasto no supermercado.
Reciclagem: jogo tudo em uma caixa ou lavo com cuidado antes de fazê-lo, gastando preciosa água potável.
Inverno: me embrulho em roupas e cobertores e evito ligar o aquecimento central - pra não produzir gases nocivos ao meio ambiente - ou ligo, pago a conta, fico quieta e quente.
Carne: deixo de comer carne em nome do bem estar dos animais e do balanço ambiental ou uso carnes como base da dieta e acrescento um amido e legumes e salada, fazendo a minha vida muito mais fácil na hora de preparar o jantar.
Estas questões são bastante inglesas e européias (!) junto com racismo e imigração. No Brasil ecologia passa por outros caminhos e as questões sociais são mais complexas. Ou serão mais simples? São diferentes de qualquer jeito... então a questão é sempre a mesma: cada um tem que fazer a sua parte. Quanto é o mínimo, quanta diferença todos os mínimos fazem são boas perguntas e quem se dá ao trabalho de ter consciência (invariavelmente a classe média) deve se manter forte em seus princípios.
Considerar-se liberal e chamar o outro de veado em tentativa de ofender não serve. Rir de piada racista então... pensar que a desigualdade social é o mal do mundo, mas tomar proveito dela pra cercar-se de serviçais é contraditório. Pagar pelo silicone da muher não faz ela se sentir mais amada (pelo menos não de onde eu venho). Reclamar da malandragem, mas achar que quem segue regras é trouxa não combina. E finalmente escapar da burocracia dando um jeitinho é tentador, mas não muda nada. Aliás, eu aqui nomeio a burocracia inimiga número um da ordem e do progresso.
P.S.: alguns istos são mais fáceis que aquilos: as roupas e as carnes são as mais difíceis de abrir mão. E a casa quente. Não sobra muito. Empregada não tenho mesmo, minha faxineira cobra por hora e bem. Produtos de limpeza ecológicos funcionam, quase todos. Seguir as regras é mais fácil onde não existe burocracia. Termos ofensivos não são uma opção e silicone, não obrigada.
Eu tento desesperadamente encontrar um meio termo - mais pra um lado que pro outro, que me permita dormir a noite. Ontem plantei mais tomates. E comprei uma composteira para o meu mini-jardim.
08 June 2009
Ou Isto ou Aquilo
Ou se tem chuva ou se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é o melhor: se é isto ou aquilo
Cecília Meireles
(Do livro Ou Isto ou Aquilo - Editora Civilização Brasileira, 1980)
Benção e Maldição
No outro domingo fez sol. Dia na praia. O sol brilhou, esquentou, minha filha tomou banho de mar - quase congelou. Foi um bom dia. Amigos reunidos, comida, vinho e conversa. Lua de mel com a Inglaterra.
No dia seguinte, a Marianela – grande amiga, venezuelana – me diz que a noite ela acompanhou o marido até o mar, onde ele nadou por alguns minutos. Haviam pessoas dançando e cantando na beira da praia. Estava lindo! Quero fazer uma fogueira... no final da tarde... me diz ela em tom de convite. E pode? Retruco eu. Sabe como é, nesse país nada pode...
Mas verdade verdadeira, nós amamos a Inglaterra. E o Brasil. E a Venezuela. Seus defeitos, qualidades, suas gentes e estações do ano. Para sempre estaremos – de certa maneira – nem lá nem aqui. Provamos a vida em mais de um mundo. Nunca mais nos contentaremos com menos do que o melhor de cada um.
No dia seguinte, a Marianela – grande amiga, venezuelana – me diz que a noite ela acompanhou o marido até o mar, onde ele nadou por alguns minutos. Haviam pessoas dançando e cantando na beira da praia. Estava lindo! Quero fazer uma fogueira... no final da tarde... me diz ela em tom de convite. E pode? Retruco eu. Sabe como é, nesse país nada pode...
Mas verdade verdadeira, nós amamos a Inglaterra. E o Brasil. E a Venezuela. Seus defeitos, qualidades, suas gentes e estações do ano. Para sempre estaremos – de certa maneira – nem lá nem aqui. Provamos a vida em mais de um mundo. Nunca mais nos contentaremos com menos do que o melhor de cada um.
02 June 2009
A Inglaterra não fica na Europa
Europe from £49 one way - anúncio da Lufthansa. Wide Range of European Tiles - loja de azulejos na esquina oposta a minha casa. London, the new Europe - poster da companhia de trens que faz Brighton-Londres, sugerindo que o povo vá turistar em Londres em lugar de ir para a Europa (!).
Dei um Google em por que os ingleses não se consideram europeus. Saiu, sim o Reino Unido - e portanto a Inglaterra - são parte do continente europeu, todo mundo sabe disso. Mas parece que alguém esqueceu de avisar...
Nas rádios da BBC, jornalistas frequentemente se referem a Comunidade Comum Européia como Europa. Eu mesma já tive uma discussão acalorada com meu vizinho, que a princípio reagiu como se eu o tivesse ofendido, mas no final declarou: sim a Europa é um continente, do qual a Inglaterra faz parte. Mas nós vivemos em uma ilha, construimos um império, somos arrongantes e infelizmente não nos misturamos...
A foto é da praia de Brighton, que fica no English Channel. Do outro lado, na França, o mesmo canal se chama La Manche.
Dei um Google em por que os ingleses não se consideram europeus. Saiu, sim o Reino Unido - e portanto a Inglaterra - são parte do continente europeu, todo mundo sabe disso. Mas parece que alguém esqueceu de avisar...
Nas rádios da BBC, jornalistas frequentemente se referem a Comunidade Comum Européia como Europa. Eu mesma já tive uma discussão acalorada com meu vizinho, que a princípio reagiu como se eu o tivesse ofendido, mas no final declarou: sim a Europa é um continente, do qual a Inglaterra faz parte. Mas nós vivemos em uma ilha, construimos um império, somos arrongantes e infelizmente não nos misturamos...
A foto é da praia de Brighton, que fica no English Channel. Do outro lado, na França, o mesmo canal se chama La Manche.
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