01 December 2009

A Raposa e o Pequeno Príncipe


"E foi então que apareceu a raposa:

Bom dia, disse a raposa.
Bom dia, respondeu polidamente o principezinho que se voltou mas não viu nada.
Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
Quem és tu? perguntou o principezinho.
Tu és bem bonita.

Sou uma raposa, disse a raposa.
Vem brincar comigo, propôs o príncipe, estou tão triste...
Eu não posso brincar contigo, disse a raposa.
Não me cativaram ainda.
Ah! Desculpa, disse o principezinho.

Após uma reflexão, acrescentou:
O que quer dizer cativar ?
Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar?
É uma coisa muito esquecida, disse a raposa.
Significa criar laços...

Criar laços? Exatamente, disse a raposa.
Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.
E eu não tenho necessidade de ti.
E tu não tens necessidade de mim.
Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...

Mas a raposa voltou a sua idéia:
Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco.
Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol.
Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros.
Os outros me fazem entrar debaixo da terra.
O teu me chamará para fora como música.

E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo?
Eu não como pão. O trigo para mim é inútil.
Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste!
Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
Por favor, cativa-me! disse ela.

Bem quisera, disse o príncipe, mas eu não tenho tempo.
Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa.
Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos.
Se tu queres uma amiga, cativa-me!

Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa.
Mas tu não a deves esquecer.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."

Antoine de Saint-Exupéry

4 comments:

Anonymous said...

Incrivel .. este livro passou por mim no Brasil
Anos mais tarde eu encontrei este livro Petit Prince no lixo na rue Lourmel em Paris no ano de 2000.
Alguns se desfazeem e outros descobrem.

Anonymous said...

lindo, lindo, lindo!ja tinha passado por aqui mas nao tinha escrito nada :(
Estou com um pe aqui e outro la ja!Vou dia 20 e meu coracao esta apertaaaaaaaaado de saudades!
Um bjo e ate mais!
marilia

Unknown said...

Ola
Não sei se foi porque Saint-Exupery passava muito tempo voando solitariamente de um continente para outro, mas seus escritos sempre me pareceram carregados de solidão. Vejo o Pequeno Príncipe como um adulto solitário em trajes de criança. A própria figura de príncipe é uma figura solitária, ao qual todos admiram, mas ninguém faz companhia. O Príncipe parece estar sempre buscando o outro, mas quando encontra alguém para dialogar ele declara que o outro, que ele busca, está mais adiante.
E segue solitário, muito solitário...

Álvaro

saitica said...

Saint-Exupery...
O Pequeno Principe. Um estudante de filosofia que morava comigo numa pensão em Salvador no Pelourinho, me deu para ler... mudou minha vida... lá os percevejos faziam festa nos colchões de palhas, pensão muito pobre, todos moradores eram estudantes noturnos e trabalhavam.
Outro morador, também amigo, me convidou para participar de uma lista de suicidas (assinei - todos se jogariam do alto do elevador Lacerda para cidade Baixa em protesto à Guerra do Vietnã)
Como a lista ficou entre eu e ele, sobrevivemos.
O filósofo sabendo da lista, me fez ler o Pequeno Principe.
Vendo outro dia um filme que se passa no Pelourinho - Ó Paí Ó...
revejo o amigo suicida sobrevivente ... foi cativado por outras ideias felizmente.
daniel