Não há muito o que contar,
para amanhã
quando já desça
ao Bom-Dia
é necessário para mim
este pão
dos contos,
dos cantos.
Antes da alba, depois da cortina
também, aberta ao sol do frio,
à eficácia de um dia turbulento.
Devo dizer: aqui estou,
isto não me aconteceu e isto acontece;
enquanto isto as algas do oceano
se movem predispostas
à onda,
e cada coisa tem sua razão,
sobre cada razão,
sobre cada razão um movimento
como de ave marinha que levanta
da pedra, da água, da alga flutuante.
Eu com minhas mãos devo
chamar: venha qualquer um.
Aqui está o que tenho, o que devo,
Ouçam a conta, o conto e o som.
Assim cada manhã de minha vida
trago do sonho outro sonho.
Pablo Neruda
12/07/1904 - 23/09/1973
28 February 2010
21 February 2010
15 February 2010
Finalmente
Decisão tomada. A volta ao Brasil é inevitável. A natureza, o calor - do sol e humano - os amigos, a família, a comida e, alas, as empregadas domésticas me puxam como um ímã gigante e irresistível.
Tanto tempo pra tomar uma decisão e a parte difícil começa agora. Burocracia brasileira é um deleite... a Lea não é brasileira nata, acabo de descobrir. Tem passaporte e certidão de nascimento brasileiros, mas pra viver no Brasil tem que ser brasileira nata. E assim caminhamos todos nós...
A matemática é desestimulante. Alugar a casa em Brighton. Empacotar a casa em Brighton. Abrir conta em banco. Conseguir fiador. Buscar morada em São Paulo. Desempacotar a casa em São Paulo. Organizar plano de saúde. Achar escola. Encontrar a tal empregada. E esse cálculo não inclui números.
Quando chegar, já me achando paulistana, vou ler a Folha todos os dias e, ainda com ranço de inglesa, vou em busca do Guardian nos sábados. Vou reclamar do trânsito e não sair de casa por uma semana. Vou tomar café em lugar de chá e olhar tudo em volta com olhos deslumbrados. A cidade e as pessoas vão me inspirar. Ter meus amigos mais perto vai me fazer feliz. E depois disso eu não sei.
Tanto tempo pra tomar uma decisão e a parte difícil começa agora. Burocracia brasileira é um deleite... a Lea não é brasileira nata, acabo de descobrir. Tem passaporte e certidão de nascimento brasileiros, mas pra viver no Brasil tem que ser brasileira nata. E assim caminhamos todos nós...
A matemática é desestimulante. Alugar a casa em Brighton. Empacotar a casa em Brighton. Abrir conta em banco. Conseguir fiador. Buscar morada em São Paulo. Desempacotar a casa em São Paulo. Organizar plano de saúde. Achar escola. Encontrar a tal empregada. E esse cálculo não inclui números.
Quando chegar, já me achando paulistana, vou ler a Folha todos os dias e, ainda com ranço de inglesa, vou em busca do Guardian nos sábados. Vou reclamar do trânsito e não sair de casa por uma semana. Vou tomar café em lugar de chá e olhar tudo em volta com olhos deslumbrados. A cidade e as pessoas vão me inspirar. Ter meus amigos mais perto vai me fazer feliz. E depois disso eu não sei.
08 February 2010
Coragem ou burrice
Existe um linha tênue entre a coragem e a burrice. De tempos pra cá comecei a questionar onde foi que eu parei. Sem poder enxergar a tal linha, concluí que bem em cima dela.
Sair do Brasil e sentar campo em terra estrangeira aos vinte e seis anos simplesmente aconteceu. Perdi e ganhei – como em qualquer escolha na vida que nos leva pra longe, no sentido físico, mental ou espiritual.
Ter uma filha com um norueguês mais novo que eu, em Londres, sem planejar nem pensar pode ter sido irresponsável, mas foi ao mesmo tempo maravilhoso. No Brasil eu cresci com a certeza de que um dia teria filhos, carreira, empregada e, provavelmente, ex-marido...
Me encontrar na Inglaterra, sem pai nem mãe, sem trabalho (preços de creches e horários de trabalho são proibitivos para quem não é professora ou bancária) e sem nem sequer uma amiga que soubesse preço - ou utilidade - de fraldas foi duro.
Sete anos se passaram desde que a Lea nasceu. Muito passou. Muito ficou. Tudo o que aprendi carrego comigo. É aquilo que ninguém pode nos tirar.
Decidi que fiquei na Inglaterra para fazer o que tinha que ser feito (por mim) e agora posso voltar para o Brasil. E que ficar seria ultrapassar o limite da coragem...
Sair do Brasil e sentar campo em terra estrangeira aos vinte e seis anos simplesmente aconteceu. Perdi e ganhei – como em qualquer escolha na vida que nos leva pra longe, no sentido físico, mental ou espiritual.
Ter uma filha com um norueguês mais novo que eu, em Londres, sem planejar nem pensar pode ter sido irresponsável, mas foi ao mesmo tempo maravilhoso. No Brasil eu cresci com a certeza de que um dia teria filhos, carreira, empregada e, provavelmente, ex-marido...
Me encontrar na Inglaterra, sem pai nem mãe, sem trabalho (preços de creches e horários de trabalho são proibitivos para quem não é professora ou bancária) e sem nem sequer uma amiga que soubesse preço - ou utilidade - de fraldas foi duro.
Sete anos se passaram desde que a Lea nasceu. Muito passou. Muito ficou. Tudo o que aprendi carrego comigo. É aquilo que ninguém pode nos tirar.
Decidi que fiquei na Inglaterra para fazer o que tinha que ser feito (por mim) e agora posso voltar para o Brasil. E que ficar seria ultrapassar o limite da coragem...
02 February 2010
Trezentas e trinta e cinco libras e vinte e um pence
www.onimage.co.uk
Há alguns anos entrei como colaboradora na Onimage. No início a idéia era investir tempo escaneando negativos (!) para um dia receber um pagamento surpresa, por alguma foto vendida em algum lugar no mundo. Idealmente seriam vários dias e vários pagamentos. Mas só aconteciam cheques de £7,52 - sempre a mesma imagem e sempre para jornais.
Ontem o dia chegou e com ele vieram um recibo de £335,21 e uma sensação de reafirmação. Talvez confirmando o que a Simone disse e me contradizendo (What do you do? Nem Lá Nem Aqui - 14Ago09), vender uma imagem me trouxe de volta a motivação para investir tempo em fotografia como fonte de dinheiro, reconhecimento e auto-estima.
Escolher praticar a fotografia apenas como arte é muito bonito. E decidir que por conta disso não preciso fazer dinheiro com ela é muito cômodo. Então foi um pôr do sol com coqueirinho que me mostrou o quanto eu estava errada, e quanto trabalho tenho pela frente... como diz o Camilo, a gente não quer ser Van Gogh, a gente quer ser Damien Hirst...
Há alguns anos entrei como colaboradora na Onimage. No início a idéia era investir tempo escaneando negativos (!) para um dia receber um pagamento surpresa, por alguma foto vendida em algum lugar no mundo. Idealmente seriam vários dias e vários pagamentos. Mas só aconteciam cheques de £7,52 - sempre a mesma imagem e sempre para jornais.
Ontem o dia chegou e com ele vieram um recibo de £335,21 e uma sensação de reafirmação. Talvez confirmando o que a Simone disse e me contradizendo (What do you do? Nem Lá Nem Aqui - 14Ago09), vender uma imagem me trouxe de volta a motivação para investir tempo em fotografia como fonte de dinheiro, reconhecimento e auto-estima.
Escolher praticar a fotografia apenas como arte é muito bonito. E decidir que por conta disso não preciso fazer dinheiro com ela é muito cômodo. Então foi um pôr do sol com coqueirinho que me mostrou o quanto eu estava errada, e quanto trabalho tenho pela frente... como diz o Camilo, a gente não quer ser Van Gogh, a gente quer ser Damien Hirst...
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