Há mais ou menos trinta e sete anos que desigualdade e injustiça me atormentam. Já incitei quem por aqui passa a fazer – o que esperamos seja – a sua parte para melhorar o mundo. Nisso também questionei qual é o meio termo, o quanto se pode fazer sendo quem somos – artistas, professores, profissionais da classe média que trabalham duro para pagar as contas e jantar fora de vez em quando.
Ontem fui comer Dim Sum e beber coquetéis em um restaurante bacaninha em Cardiff. Maravilhoso. Hoje de manhã fiquei na cama lendo, enquanto o marido e a filha brincavam na piscina do hotel onde estamos. Maravilhoso. Só que a leitura era a The Economist, então um assunto inevitável é a miséria humana. O líder da Coréia do Norte acusado de alta traição, a área na Coréia do Sul onde setenta por cento da população vive de mingau de milho com capim e a vista grossa do ocidente, preocupado apenas com a desarmamento nuclear naquela região.
De volta: deixar de comer Dim Sum não faz diferença na vida de ninguém exceto a minha. Estou no País de Gales por que meu marido está aqui, a trabalho, por três meses - o vejo esporadicamente. No dia-a-dia tenho uma filha pra ensinar valores e – o que não tenho – disciplina. Além de tentar desesperadamente dar rumo ao meu trabalho e encontrar sentido em tudo isso. Ainda sem saber se fico ou se vou, lógico.
Tem sempre alguém em uma situação pior que a minha. Isso não pode ser medida de contentamento. Não funciona. Quero um carro novo, maior. Quero ir ao Brasil com mais frequência. Quero jantar fora com mais frequência. Deveria poder quereres sem me sentir culpada.
Levo minha vidinha de uma em cinco bilhões (and counting). Não sou diretamente responsável pela exploração de recursos naturais e nem da mão de obra alheia. E então, mais uma vez, a questão: cada um dos mais de cinco bilhões tem que fazer o que lhe cabe para que o mundo não acabe – pelo menos não nas nossas mãos. E para que a injustiça dos homens não se esconda atrás da injustiça dos deuses. E segue em frente que atrás vem gente.
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