02 September 2011

Mais aqui do que lá

Mais fotógrafa que dona-de-casa. Mãe de mais uma menina. Cidadã européia e brasileira, cheia de estranhamentos aqui e estranhezas lá. Sempre assombrada pela sensação de não pertencer a lugar nenhum. Mas ficando por aqui. Por enquanto.

30 May 2011

Perfeição

Se existisse eu seria dona-de-casa.

10 May 2011

Faxina no primeiro mundo...

... é feita – comumente - pelos donos da casa, e quando é o caso, ajudados pelos hóspedes. Na Noruega sou hóspede. Desta feita junto com mais treze pessoas. Oito adultos. No final da curta temporada todos os adultos se jogaram na tarefa de limpar a cabana. Homens no aspirador e lixo e bagagens, mulheres nos quartos e cozinha e banheiros.

Com toda minha vontade de voltar para o Brasil, não consigo deixar de pensar: ai de mim no dia em que tiver que assistir alguma amiga casada arrumando a casa da praia, enquanto o marido toma uma cerveja gelada - antes de pegar a estrada! Ou seria ai de quem fizer isso na minha frente?

30 April 2011

Clementine, Mandarin, Tangerine, Satsuma

Bergamota, Mexerica, Tangerina, Laranja cravo. Esses dias comprei essa fruta de muitos nomes com os cabinhos! Um luxo! Vieram em uma caixinha e paguei um bom preço. No rótulo estava especificado: Clementines with stalk and leaves. Já tomates com cabinhos, salmão, pêras e tulipas são comuns e baratos... até hoje me divirto observando essas pequenas diferenças...

P.S.: minha filha me informa que não se pode mais chamá-las Mandarins. Coisas do mundo politicamente correto em que vivemos... outra história.

30 March 2011

Escola nova, tradições mantidas.

Nas escolas inglesas os professores são chamados pelo sobrenome precedido por Mr, Mrs, Miss ou Ms (Senhor, Senhora, Senhorita ou ‘nem Senhora nem Senhorita, não é da sua conta, mas continuo sendo digna de respeito’ – tradução minha, livre). Eu uso Ms, claro. Mas essa é outra história.

Voltando as escolas e suas tradições, todas as escolas – que eu conheço – tem hierarquia rígida. E tem também festas para arrecadação de fundos. Nessas festas se vendem bolos que os pais fazem para o dia, brinquedos doados, rifas para cestas de guloseimas e vinhos e assim vamos...

No meio de tudo isso, também se pode decorar biscoitos, fazer tatuagens de mentira, pintar o rosto... mas um dos stands que mais dá dinheiro é o Sponge the teacher! Que consiste em nada menos que jogar uma esponja molhada na cara do professor que se presta a isso – devo dizer, até agora só vi Misters.

Não me acostumo com a contradição desta tradição, mas rio junto... e tiro fotos – o que é, possivelmente, a parte menos popular entre os Mr. Teachers...

09 March 2011

How does it feel?

Na noite de 27 de fevereiro, domingo, meu telefone começou a tocar e eram ‘as mães’ da escola da Lea perguntando: você já recebeu a carta?

A escola fechou. Faliu. Depois de uma semana de half-term (uma semana de férias a cada seis semanas!), no domingo a noite nos avisaram – através de cartas entregues de casa em casa – que a escola não existe mais. Quem quisesse ir até lá no dia seguinte de manhã, buscar o que aos seus filhos pertence, podia.

Então na segunda-feira de manhã lá estávamos nós. Foi só quando eu entrei e vi a escola (que é/era minúscula) meio bagunçada, meio vazia; pais e professores pelos cantos, meio reclamando, meio chorando, que eu entendi.

Nunca mais eu vou entrar naquela escola. Nunca mais minha filha vai entrar naquela escola. Aquele lugar, que fazia parte do nosso dia-a-dia, não vai mais existir do jeito que a gente conhecia.

How does it feel? It feels pretty shit (and please excuse my French).

21 February 2011

A Europa segundo o Zeca Saraiva.

(Copiei, com a devida autorização, um e-mail que ele mandou para a minha mãe depois de passar por essas bandas. A foto é minha.)

Oi Paz, como anda a vida ai em Brighton? Minha passada por Londres foi relâmpago, seis noites, quatro museus e três noitadas em pubs; tentei um contato com a Ananda, mas ela não retornou, talvez não tenha chegado.

Achei os ingleses das ruas muito neuróticos, apressados, duros e sem afeto, mas sempre educados. Já nos pubs, sob a égide de Diunisius, são simpáticos e até comunicativos, até... mas, como povo, fico com os alemães, os holandeses e os húngaros; além dos irlandeses e espanhóis, é claro.

Nem todo o latino é simpático, os italianos são elegantes e irônicos; posso dizer que a marca registrada da Itália é a ironia. Imagina que em um restaurante o dono quis me testar, perguntando em que cálice ele deveria me servir a água; ele só não sabia que estava falando com o filho de Dona Alcina e irmão de Silvia Maria; eu senti a maldade e disse: no meu país nós sempre servimos a água no copo maior, aqui na Itália é diferente? Ele sorriu e me serviu a água, no copo maior, naturalmente. Assim são os italianos, sutilmente irônicos.

No entanto, ninguém é mais elegante do que eles; a Claudinha e eu ficamos tomando umas cervejas, abaixo de zero grau, num bar na calçada, ao lado da Fontana di Trevi, vendo o povo sair do trabalho, homens e mulheres, um verdadeiro desfile de moda, um show de elegância.

Adoramos Budapeste, preferi à Praga, as pessoas, os bares e a receptividade. Bologna também foi uma suspresa; Roma estava bombando, com belos dias frios, mas de céu azul e gente a dar com pau; mas a noite a cidade dorme ou nós não descobrimos onde ela baila.

Madrid é a cidade mas movida a la noche; não faltam bares abertos às cinco da manhã para se tomar uma saideira; estávamos no centro histórico, onde a cidade só pára quando o sol aparece. Claro que nos deitávamos no máximo a uma, porque quem faz dia, não consegue fazer a noite.

Quanto a sexo, drogas ou rock and roll, nada aconteceu, turista não tem tempo pra essas coisas, pra isso é preciso parar e nós estavamos sempre correndo. Mas se a viagem foi corrida, com muitos aeroportos, hotéis, não tivemos nenhum contratempo, além do tempo é claro.

Quero voltar na primavera... Ah! A grande novidade é que em julho será inaugurado um vôo direto Porto Alegre-Lisboa; já pensou? O Leonel, que nos encontrou em Madrid, disse que Lisboa está o máximo. Ele ficou dez dias lá. De fato, pra sentir uma cidade a gente tem que ficar, no mínimo, dez dias.

Ah, mesmo caminhando todos os dias, eu engordei seis quilos; embutidos no leste europeu e bacon em Londres, além daquelas cervejas maravilhosas... mas, já voltei pra academia e pros almoços no Equilibrium; ainda não suspendi de vez o álcool, porque eu não aprendi a fazer vida social nâo etílica; aos poucos o rigor pró-saúde vai se reinstalando, aos poucos... obsessivo ma non tropo.

Saudades, beijos pra todos e diz pra Ananda que em breve eu volto a Londres, que é uma cidade como Paris, pra se ficar um mês, no mínimo.

Hasta luego!

Abrazos
, Zeca

14 February 2011

Ambições

Quando eu tinha cinco anos eu sonhava em levar o sanduíche da merenda embrulhado em papel alumínio. Eu achava que ele já vinha daquele jeito, todo enrugado (meus sanduíches vinham embrulhados em guardanapos de pano).

Aos oito anos eu queria ser aeromoça. Na adolescência queria sair de casa. Durante os meus vinte anos eu queria fotografar, trabalhar muito e ganhar muito dinheiro – mas a verdade é que já tinha percebido que o que eu queria fazer em fotografia não combinava com orçamentos grandiosos.

Aos vinte e nove engravidei e minha principal ambição era ter um bebê saudável e inteligente. Aos trinta e oito sei que conquistei muitas coisas. Papel alumínio, minha própria casa, trabalho em fotografia sem orçamentos grandiosos, uma filha saudável e mais inteligente que eu.

Minhas ambições hoje são muito maiores: quero ter satisfação no que faço; quero mais vitamina D no corpo; mais tranquilidade; ficar casada com mesmo homem até que a morte nos separe. Que a minha filha possa crescer e fazer parte de um mundo (que vai estar lotado de qualquer jeito) com gente mais consciente de si e dos outros – e quero tudo isso vivendo em centros urbanos. Além de umas outras coisas que o dinheiro compra.

07 February 2011

Sobre o limbo

Brasileiros na Inglaterra são turistas, imigrantes econômicos ou sociais*. Há muito pertenço ao último grupo. Com orgulho típico de brasileira classe média. Na minha cabeça média minha vida no Brasil era muito mais confortável do que aqui.

Mas quando o assunto é economia, divisão de classes, violência e conforto material a idéia de que o Brasil está bombando e a Inglaterra afundando ainda está mais no Guardian e na The Economist do que no dia-a-dia.

Com a perspectiva de voltar me vi obrigada a me imaginar de volta em São Paulo. Todos os dias dormindo, acordando, trabalhando, comprando... e no Brasil há-se de comprar tudo – escola, médico, segurança...

Ontem, entre as prateleiras do Tesco - onde escolho o que quero sem olhar o preço - fiquei pensando na minha vida em Brighton. Na cidade pequena, na beira do mar, ao lado de Londres. Adoro minha casinha vitoriana, meu carrinho coreano, minha vida confortável de classe média inglesa. Mas isso foi ontem. Em outros dias odeio o frio, a falta de sol, a solidão da minha casa e da minha vida de estrangeira.

A sensação de não estar nem lá nem aqui saiu disso e continua nisso. E hoje minha tranquilidade-e-conforto-materiais pesam nas minhas decisões tanto quanto os outros fatores da interminável lista que me puxa de volta à Terra Brasilis. O limbo é essa necessidade amedrontada de deixar pra trás o que eu conheço e me atirar em um mundo novo, que deveria ser home, mas não é mais.

*essa classificação é geral e simplificada, para determinar o contexto sem comprometer a cadência do texto. A sociológa dentro de mim e a antropóloga Ana Paula Figueiredo não permitiriam esse desleixo na exatidão da informação.

19 January 2011

11 January 2011

Ano novo, vida semi-nova

De volta ao Reino Unido. De volta a casa. Ao trabalho da casa. A verdade é que minha alma de brasileira classe média não consegue conviver com uma casa menos que impecável – ou quase.

Por anos eu tentei me convencer de que o problema estava em mim. Que eu deveria aprender a conviver com bagunça e gastar meu tempo e energia em tarefas menos repetitivas que as domésticas. E eu tentei.

Agora aluguei um estúdio. Bom, uma mesa em um canto em um estúdio. Amanhã levo cadeira, caixas, extensão para o computador, computador. Assim, se eu deixar a casa - como está nas fotos - de manhã, quando voltar no final da tarde ela vai estar assim. E se eu não deixá-la assim – o que é bem provável, a bagunça só vai me incomodar umas três horas por dia. Tem que funcionar.