23 December 2009

Paulicéia revisitada

No primeiro dia não tirei o sorriso do rosto.
No segundo dia tomei banho de piscina e li a Folha deitada no sol.
No terceiro dia saí - e então percebi que São Paulo e eu não nos conhecemos mais.

No quarto dia vi de perto a alegria e o calor humano que vim buscar.
No quinto fui ao Itaú Cultural.
No sexto reuni amigos.
Descansei todos os dias.
Percebi minhas inglesisses e brasileirisses.
Testemunhei a supremacia dos carros.
Não vi nenhuma criança de rua.

Comi açaí na tigela, mamão, pão de queijo, biscoito de polvilho, requeijão, queijo branco, pão na chapa, água de coco, brigadeiro, pão doce, churrasco e purê de mandioqinha.

No sétimo dia parti.
Mas levo São Paulo comigo pra poder voltar.
Digo, pra poder morar. Lá.
E Flávia e Ricardo: much obliged.

14 December 2009

Natal no Brasil

O boneco de neve vai derreter. Papai Noel sempre derrete. Eu vou derreter. Não vejo a hora.

08 December 2009

Zygmunt Bauman x Jerry Bruckheimer

Ontem fui trabalhar em Londres. Na estação de Brighton comprei chá, o jornal, água, a The Economist. Deveria assinar. E também a Intelligent Life – que acabei de descobrir que existe. Parece interessante. Julian Barnes escreve pra eles. Adoro quando ele escreve histórias curtas para o Guardian. Nunca li um livro dele...

Deveria ler mais. Me faz feliz. Requer disciplina. É como exercício. Nunca há tempo. Tem que fazer - o tempo.

Sempre tenho tempo para televisão. Geralmente filmes (tenho orgulho da minha aversão a factual tv). As vezes documentários. As vezes CSI.

Hoje acordei atrasada. Acordo atrasada todos os dias - corro pra cima e pra baixo pra aprontar a Lea para a escola. Então a levo para a escola. Volto pra casa e subo para o escritório.

Hoje o dia passou por mim – trabalhar em casa é geralmente sinônimo de tentativa. Raramente de sucesso.

Hora de fazer o jantar e mandar a Lea para a banheira. Depois arrancá-la da banheira. Colocar ela pra dormir. Nessa hora a escolha é sempre um livro.

Vou para a minha cama. Posso ler Bauman (o preferido do momento) ou assistir televisão. Preciso costurar uma meia-calça da madame, responder um e-mail do meu supervisor e listar alguma coisa. A TV ganhou. Ficou tarde. Amanhã leio.

01 December 2009

A Raposa e o Pequeno Príncipe


"E foi então que apareceu a raposa:

Bom dia, disse a raposa.
Bom dia, respondeu polidamente o principezinho que se voltou mas não viu nada.
Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
Quem és tu? perguntou o principezinho.
Tu és bem bonita.

Sou uma raposa, disse a raposa.
Vem brincar comigo, propôs o príncipe, estou tão triste...
Eu não posso brincar contigo, disse a raposa.
Não me cativaram ainda.
Ah! Desculpa, disse o principezinho.

Após uma reflexão, acrescentou:
O que quer dizer cativar ?
Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar?
É uma coisa muito esquecida, disse a raposa.
Significa criar laços...

Criar laços? Exatamente, disse a raposa.
Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.
E eu não tenho necessidade de ti.
E tu não tens necessidade de mim.
Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...

Mas a raposa voltou a sua idéia:
Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco.
Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol.
Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros.
Os outros me fazem entrar debaixo da terra.
O teu me chamará para fora como música.

E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo?
Eu não como pão. O trigo para mim é inútil.
Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste!
Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
Por favor, cativa-me! disse ela.

Bem quisera, disse o príncipe, mas eu não tenho tempo.
Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa.
Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos.
Se tu queres uma amiga, cativa-me!

Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa.
Mas tu não a deves esquecer.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."

Antoine de Saint-Exupéry